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Millenium Falcon

Nem mesmo o recente acidente fatal tira do Tesla o título de marca hype do momento 

ago.2017

Flavio Sampaio, de Portland

No começo deste ano 180 mil pessoas pagaram US$ 1 mil para ter o direito de comprar um carro que só vai rodar no final de 2017, se tudo der certo. É o maior recorde de venda de um produto num único dia em qualquer categoria. Não estamos falando de um telefone ou de um tablet mas de um automóvel que irá custar US$ 35 mil.

Ao invés de uma maçã mordida a marca que está transformando a indústria usa a letra T no logo, homenagem ao engenheiro croata Nikola Tesla, inventor da corrente elétrica alternada em 1888. No lugar de Steve Jobs, temos agora Elon Musk, um sul-africano de 43 anos que já revolucionou o sistema de pagamentos eletrônicos com a PayPal, fundou a Tesla em 2003 e, de quebra, promete levar turistas para o espaço com sua SpaceX.

“Queremos acelerar a transição para o transporte sustentável”, afirmou Musk no pré-lançamento do Model 3, a nova aposta da marca que só produz carros elétricos. De abril para cá a fila de interessados mais que dobrou: são 400 mil motoristas querendo aposentar os obsoletos carros movidos a combustíveis fósseis e ainda posar de gatinho no carro que promete pavimentar essa estrada sem volta. Mas por que todo mundo quer comprar um Tesla?

Carros elétricos não são uma novidade; gigantes como Honda, Nissan e GM tentaram criar suas versões mas sempre derraparam em três quesitos básicos: design, velocidade e autonomia. A promessa de salvar o mundo em carros feios, lentos e com baterias que precisam ser recarregadas a cada 100 km não combinava com a geração acostumada com os produtos Apple.

Em 2008 a Tesla lançou o Roadster, seu primeiro bólido com impressionantes resultados: 0 a 100 km em 3,7 segundos, bateria lítio íon com autonomia de 392 km sob uma carroceria esportiva digna de filmes de Hollywood. Mesmo com o preço acima dos US$ 100 mil, o Roadster vendeu mais de 2,5 mil unidades em 30 países, incluindo motoristas como os atores Matt Damon, Leonardo di Caprio e o diretor Steven Spielberg. Pela primeira vez um carro elétrico tornou-se hype.

Em 2012 Musk e sua equipe baseada em Sillicon Valley, na Califórnia, mostraram que um sedã elétrico pode ser mais veloz que a italiana Ferrari, mais sexy que uma Porsche alemã, mais seguro que a sueca Volvo e mais econômico que um jegue. Com seus 691 cavalos a versão top de linha do Tesla S atinge 100 km em 2,8 segundos sem ter que trocar óleo, gastar uma gota de gasolina e ainda tem acabamentos de luxo que até um Jaguar ficaria com ciúmes.

A Consumer Reports, mais respeitada entidade americana na avaliação de produtos, teve que mudar seus sistema de pontuação após testar o sedã que pode ser carregado na tomada de casa. Ele conseguiu 103 pontos num total de 100. “Em 80 anos esse foi o melhor carro que já dirigimos”, sentenciaram. Desde o lançamento do Tesla S Musk já contabilizou mais de 100 mil unidades vendidas nos EUA, Europa e Ásia a um custo que varia de US$ 85 mil a US$ 128 mil, no mercado americano. Não há previsão de entrada no mercado brasileiro.

Depois de tantas credenciais, incluindo a atriz Cameron Diaz com feliz proprietária de um Tesla, fui testar esse carro que já se tornou ícone de tecnologia, design, inovação e sustentabilidade. Marquei um test drive como qualquer mortal com carteira de habilitação válida poderia fazer aqui nos EUA e segui para um shopping center de Portland, na Costa Oeste do país, onde a marca tem uma loja. Escolhi o Model X,  a SUV mais veloz e segura da história. Na verdade quem escolheu mesmo foi o meu filho, de oito anos, que entende mais de carro do que eu e se encantou com as portas traseiras que se abrem como asas de falcão.

Ligo o motor e não ouço nada. Olho para o enorme painel de controle que oferece informações sobre o trânsito, acesso ilimitado a músicas online, dados sobre o veículo até o piloto automático – não apenas um botão que mantém a velocidade mas um verdadeiro controlador automotivo. Meu filho acompanha tudo do banco traseiro, sem piscar, fazendo mil perguntas para a bem preparada consultora da Tesla que acompanha o test drive.

O para-brisas do Model X muda completamente a sensação de estarmos em um carro fechado. O vidro sobe pelo teto do carro e transforma nosso habitáculo em um conversível com capota. “Aperta o botão Insane Mode”, gritava o moleque. Que raio de modo insano ele estava se referindo? É um dispositivo que faz essa SUV familiar alcançar 100 km em 3,2 segundos – o mesmo tempo gasto por uma McLaren F1. A sensação é tão incrível que me senti o Han Solo pilotando a Millennium Falcon com aqueles riscos de luz ao redor.

Entro na US 26, maior estrada do Oregon, no momento em que meu filho pede para tocar rock (sim, a próxima geração está no caminho certo). Enquanto Eddie Vedder entoava sua poesia pulsante vejo que é o momento certo para acionar o piloto-verdadeiramente-automático. Numa combinação de câmeras, radares, sensores ultrassônicos e informações de navegação atualizadas automaticamente online, troco meus 25 anos de experiência ao volante pela tecnologia criada pelos engenheiros da Califórnia.

O sistema reconhece tudo o que acontece ao redor do carro,  acelera, freia e até troca de faixa em segurança. Como ainda não consegue prever sinais de trânsito ou saídas para outras vias o sistema é indicado apenas para ser usado em rodovias e, ainda assim, a Tesla recomenda “que o motorista seja o responsável pela direção do carro”.

Dois dias após o meu test drive houve o primeiro acidente fatal causado pelo uso do  piloto automático – investigações apontam que o condutor assistia um filme do Harry Potter no momento do impacto. Apesar deste acidente os carros da Tesla são considerados os mais seguros do mundo. Todos, sem exceção, obtiveram as notas máximas concedidas pela NHTSA e Euro NCAP, entidades americana e europeia de controle de segurança automobilístico.

De volta ao estacionamento finalizo meu “electric drive” com mais uma referência hollywoodiana: a manobra Poltergeist. É um botão que faz com que o carro estacione nas vagas mais improváveis. Uma vez acionado o motorista solta a direção que começa a girar sozinha, comandada pelo mesmo sistema de piloto-automático em que você é um mero coadjuvante.

A experiência toda comprova que carros elétricos não são mais coisa do futuro e que toda a tecnologia criada pela Tesla, que já vale hoje US$ 37 bilhões, será comum nos carros dirigidos pelo meu filho daqui a 10 anos – mesmo tempo que Elon Musk promete levar o primeiro foguete tripulado para Marte com sua SpaceX.

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São Paulo, SP, Brasil

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