top of page
folha-de-sao-paulo-na-internet-5-e149126
Striper em Portland. Foto: Pepe Moscovo

Portland, capital do striptease americano

09.mar.2017

Flavio Sampaio, de Portland

Ser a cidade com o maior número de stripclubs nos EUA não era o suficiente para Portland, na Costa Oeste do país. Era preciso se diferenciar, ser especial de alguma outra maneira. Daí surgiram os strips segmentados, feitos para quem ama heavy metal, churrasco ou a filosofia vegana (que veta o consumo de tudo de origem animal).

Portland tornou-se a capital americana de strip-tease, com 54 locais diferentes para uma população de 609 mil habitantes, graças às leis liberais e cultura local. É tudo tão normal que você encontra todos os tipos de frequentadores, dos tradicionais homens grisalhos com aliança até  jovens casais, grupos de amigos e mulheres.

 

O primeiro strip da cidade mais hipster do planeta nasceu como um piano bar em 1954. O empresário Roy Keller pensou que seria interessante colocar “dançarinas exóticas” no intervalo das apresentações. Com as filas dobrando o quarteirão Keller demitiu o pianista para entrar para a história com seu famoso Mary’s, um ícone de Portland.

 

Courtney Love, a eterna musa de Kurt Cobain, foi uma das stripers do local no início dos anos 1980. Seu nome artístico era Michelle. “Comprei meu primeiro violão mostrando minhas pequenas tetinhas aqui. Vocês foram muito legais comigo”, escreveu a atriz e cantora em um cartão que fica exposto ali.

 

No Mary’s, a expressão artística vai muito além dos palcos: há painéis pintados a mão que misturam os mais variados temas. Vão desde Cleópatra com pirâmides ao fundo, passando por marinheiros carregando um navio com bananas numa ilha tropical à uma sacerdotisa fazendo um sacrifício com um vulcão ao fundo. Todos brilham no escuro.

Na área restrita a funcionários um aviso colado na parede que divide a cozinha/camarim do palco traz a seguinte frase: “Favor não vestir peles, penas, couro, seda ou lã no palco. Obrigado, os animais”. Bem vindo à Casa Diablo, “o primeiro stripclub vegano do universo”, segundo seu dono, Johnny Diablo. Carne mesmo, desculpem o trocadilho, só das stripers.

 

A especialidade do local são os tacos e o hambúrguer de soja, servidos em porções generosas por preços módicos. Assim como na maioria dos outros clubes, não há cobrança de entrada e o preço das bebidas é mais barato que em bares convencionais.

Paga-se direto para as dançarinas durante as performances. E assim mesmo só para quem escolhe sentar-se junto ao palco. Preço mínimo por música: US$ 1. Em retorno o cliente ganha movimentos bem mais próximos que podem incluir até um carinhoso abraço/chacoalhada entre seu rosto e os seios da dançarina – conhecido nos EUA como “motor de barco”. Quem preferir algo mais privativo paga cerca de US$ 50 por uma lap dance, em área restrita do clube. Em nenhum momento o cliente pode tocar na dançarina e não há a possibilidade de um programa que inclua sexo.

 

Freya, 26 anos, é vegana mas não trabalha na Casa Diablo, prefere rodopiar seu corpo malhado, cheio de tatuagens no Acropolis Steakhouse, misto de stripclub e churrascaria. Não seria exagero dizer que é lá que você encontra a melhor carne pelo menor preço da cidade: um generoso bife de 400 gramas com batatas fritas sai por US$ 8 – preço de um sanduíche barato. Há também 65 tipos de cervejas locais, a união perfeita com outro título que Portland sustenta com orgulho: não há cidade no mundo com mais cervejarias per capta do que lá.

Na noite em que Folha visitou o Acropolis, Freya não estava deslizando na barra do pole dance porque seu punho estava quebrado. Ela havia acertado um direto de direita na cara de um sujeito que confundiu as coisas, passou dos limites. Mas isso foi em North Dakota, reduto republicano que ajudou a eleger Donald Trump.

 

“Ele estava comemorando a vitória de Trump e achou que podia tocar na minha vagina”, diz Freya, democrata como a maioria esmagadora do eleitorado da cidade.

Na mitologia nórdica Freya é considerada a deusa da sensualidade e da luxúria mas também da guerra e da morte.

***

Leia a matéria original aqui

São Paulo, SP, Brasil

© Copyright Flavio Sampaio. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.

bottom of page